quarta-feira, 25 de abril de 2012

trilhos

Viajava e olhava através do vidro. Era sua vida, um vagão de trem, sempre sentada, vendo as coisas passarem.   
Pessoas se sentavam ao seu lado, algumas por muito tempo, algumas desciam na próxima estação.
Chuva, sol.  Frio que pedia uma malha. O calor que abençoava com o sol. Imagens, crianças, corriam na grama, sorrisos brancos, largos. Choro, colo.
Cheiro, quanto perfume, jamais esqueceria. 
Sabores peculiares, alguns amargos. 
As pessoas caminhavam pelo corredor estreito, não queria se esbarrar, mas hora ou outra era inevitável. 
O ritmo acelerava quando a noite chegava. Dançava, exausta dormia, no ponto, em qualquer lugar.
E quando o sol nascia, estava tão longe. Não deixava pistas, não deixava rastros, deixava lembrança. Sentava de volta numa nova estação. Não pode parar. Se apega, mas deixa. Não se arrepende, sai antes de precisar se desculpar.
Não tem certeza de nada, mas pega o trem.  A paisagem é tão mais bonita pra quem quer admirar.
Perde, mas ganha tanto. 
Tem saudade de casa, até volta, mas visita.
Dos que passaram, por coincidência, alguns se encontram novamente.
Fica sentada, vendo a vida passar, esperando alguém que se sente ao eu lado para sempre.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Do contentamento ao descontente

Tem horas que dá aquela saudade do passado. De ser adolescente, de brigar com os pais, de tentar ser rebelde, de ter amigos divertidos e descolados. De ter horário pra chegar em casa. Essas coisas, que quando se tem não são bacanas, não são bem vistas por nós.
Tem horas que dá uma angústia, caminhar pela casa e não ser mais aquela em que eu cresci, correndo no quintal, sujando a garagem com a bola. Do cheirinho de comida no final da tarde. De identificar o barulho do carro do meu pai descendo a rua, e disputar com meu irmão quem iria abrir o portão.
Tem horas que dá arrependimento e uma sensação de estar fazendo tudo errado, querendo ser independente. Quis considerar até a hipótese de chamar novas pessoas de família. Que tolice a minha. Quem oferece um ombro e por trás faz-me mal, não merece nem ao menos ser chamado de colega.
Fica um aperto no peito e a lembrança de ouvir meus pais dizendo, mesmo que descontextualizado, que pessoas traiçoeiras estão por todos os cantos. Que deve-se desconfiar principalmente daqueles que querem mostrar,demais, boas intensões.
Aprendi que dói sentir raiva, dói mais ainda sentir ódio. Eu podia estar protegida, mas me lancei na vida e tem coisas que não tem como evitar. De amor a repúdio, pessoas caminham em meus dias, sem punição ou com carma tardio que insiste em demorar.
Pra ser amigo, requer tempo, ou o mínimo de semelhança. Pessoas não se moldam tanto, ainda mais depois de velhas. Crianças tem essa vantagem, nós adultos, não!
É em perceber sinais, ou vulgas intensões, que a proteção se dá. Pessoas que acham que podem mudar desde seu mais simples gostos musicais, até a sua forma de conversar, seja pra agradar ou mesmo pra parecer quem não é, não deveria inspirar confiança muito menos respeito.
Pessoas podem ser antipáticas, cheias de manias arrogantes, fúteis, vazias, mas o caráter ainda é a característica mais crucial para se definir um ser humano. Manter-se em dia com o íntimo caráter é dar a si a chance de poder olhar nos olhos do outro sem culpa.
Pessoas sem isso serão punidas. Hora ou outra. Pelo próprio destino. Ou por quem tiveram a audácia de trair. Pessoas assim sempre acham que passarão impunes, mas serão tomadas por muito sofrimento. Embora castigo nenhum seja suficiente àqueles fingem amizade e tentam tirar tudo do outro.

domingo, 8 de abril de 2012

fez-se esse nó


Eu tava lembrando, da gente deitado, sem mal se esbarrar, olhando pro teto. Como quem não quer nada, ficava sorrindo, carinho na testa... Que coisa estranha, dar beijo nos olhos. Coisas que a gente vivia, entendia. Ser nós mesmos. Eu só sentia firmeza nessa ideologia, quando era com você. Depois a gente se beijava, fazia uma piada, se apertava pra quase sufocar.
Eu tava lembrando do caminho longo que era até o portão, onde eu te levava, abraçada, já pensando em quando você iria voltar. 
Lembro da gente se olhando no espelho, com cara de quase fotografia. Era lindo, como tudo destonada, mas se combinava.
Há algum tempo, eu lembrava com mais detalhes, era como se eu enxergasse, como se fosse cena, que acabava em um soluço, quase doía. 
Hoje eu lembro com carinho. Das noites em claro. Problema nosso. Das brigas idiotas, das diárias apostas, dos jogos. Dos planos. E eu dizia tanto: -nada de planos. Mas não fazê-los não deixava de ser um. A gente tinha certeza que acabaria, mas insistia em pensar que éramos feitos um para o outro. Alma gêmea, só pode. Daquelas que de tão parecidas não mereciam ficar juntas. É bobagem eu fingir que esqueci, que passou. Aliás, até passou. Chego a achar bom que você esteja bem. Mas esquecer eu não vou, eu nem quero.
Eu tava te lembrando esses dias. Porque tem músicas que eu ouço, que parece me me envolvem em seu abraço. E que saudade, do sorriso, do abraço. Do laço. Do nó.
Eu não acredito em destino, eu não acredito em quase nada. Eu não acredito que volte. Nem que foi melhor ou pior. Eu só consigo ter a sensação de que eu deveria ter aprendido alguma coisa. Quando eu descobrir vou ser completa de novo.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Na boa

Tá certo, esse tal de Demóstenes, deve ser corrupto sim, deve fazer parte de mais uma grande falcatrua política em terras tupiniquins e tudo mais. Mas o que não entendo, do mesmo modo que não entendo a graça no vídeo “para nossa alegria”, é todo esse falso moralismo que surgiu com o assunto, pessoas “decepcionadas” ou “revoltadas” com a situação, cheias de imagens politizadas para se colocar no facebook, e de declarações acaloradas de quão decepcionadas estão com a situação. Todos sempre sedentos por mudanças urgentes e exigindo justiça.

Tanta atuação em troca de quê? Digo atuação, por que é isso que nossa mídia virtual se tornou, uma maioria esmagadora de pessoas sem um pingo de critério, que engole qualquer noticia que seja um “trend topic”, que seja um viral. Alguém decide que uma noticia é importante, ou que um vídeo é acima de média, e pronto, a merda foi jogada no ventilador. Surgem milhares de declarações ou piadas sobre o assunto, todos comentam, todos opinam, todos se interessam. Todos querem aparecer , se divulgar,sendo politizado ou engraçado, o importante é fazer sucesso!

Mas ai, na “semana seguinte”, alguém descobre um gato, que foi gravado fazendo alguma coisa incomum, ou vê graça em uma propagando que afirma que alguém está no Canadá, e se bobear resolve falar de algum novo recorde que o Messi tenha batido... Assim o ciclo se repete, milhões de pessoas dissecam o assunto, até que todos fiquem de saco cheio, até que um novo assunto surja...

E o Demóstenes? É esquecido, usa de imunidade parlamentar, some das paginas jornalísticas por alguns anos... e aparece em alguma eleição aleatória, ou cargo público que seja, no caso da eleição com grandes chances de vitória!

Mas a “nossa alegria”? Ah, ela ficará intacta, o “pão e circo” do povo está garantido. Os bolsas famílias estão ai para alimentar, e o famoso youtube( ou Iutubiu) entretém os entediados. E assim a vida segue, e o Brasil da impunidade não muda, junto com sua população seguidora de opiniões formadas.